17 setembro 2018

Aceitem-se uns aos outros


Aceitem-se uns aos outros

Domingo passado vimos que somos chamados a preservar a unidade produzida pelo Espírito Santo, quando nos fez parte da igreja: fomos incluídos na família de Deus e feitos membros do corpo de Cristo. A ligação que há entre nós foi estabelecida pelo próprio Deus, que nos convoca para preservar aquilo que ele fez.

Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma que Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus. Rm 15.7

O mandamento recíproco da semana é: Aceitem-se uns aos outros. Paulo explica que a compreensão da unidade que existe entre nós (versos 5 e 6) deve nos levar a aceitar uns aos outros. Mas qual a abrangência desse aceitar?

Se o texto terminasse aí estaríamos expostos a todo tipo de interpretação sobre o significado dessa aceitação e a igreja seria uma espécie de vale tudo, porque cada um teria sua própria opinião a respeito de aceitar o irmão.

Mas o Espírito de Deus conduziu a apóstolo Paulo a dizer que a aceitação que devemos ter de uns para como os outros precisa ser igual à que Jesus teve por nós. E como Cristo nos aceitou?

Cristo nos aceitou como seus discípulos sem pré-requisitos morais, comportamentais, filosóficos ou de qualquer outra natureza. Não é que Deus deixou de se importar com o jeito que vivemos e pensamos. Ele deseja tratar desses assuntos conosco, mas não pré-requisito para o seu amor.

Nós estávamos espiritualmente mortos, existencialmente perdidos e sem esperança. Ainda assim fomos alcançados pela graça de Deus.

Não faz muito tempo, vocês estavam atolados naquela velha vida podre de pecado. Haviam permitido que o mundo, que não sabe nada a respeito da vida, dissesse a vocês como viver. Enchiam os pulmões com a fumaça da incredulidade e exalavam desobediência. Todos nós já nos comportamos assim, fazendo o que queríamos, a nossa própria vontade; estávamos todos no mesmo barco. Graças a Deus, ele não perdeu a paciência nem nos exterminou. Em vez disso, com sua imensa misericórdia e seu amor extravagante, ele nos abraçou. Tirou-nos da nossa vida presa pelo pecado e nos fez vivos em Cristo. Fez tudo isso por conta própria, sem qualquer ajuda da nossa parte! Ele nos tomou para si e nos concedeu um lugar nos altos céus, na companhia de Jesus, o Messias. Não é demais? Ef 2.1-6 (AM)

Jesus nos acolheu por amor. Mas não se trata de algo que a gente faz para provocar o amor dele. O interesse dele por nós veio primeiro, tanto que as Escrituras dizem que ele nos amou primeiro.

É dessa mesma forma que somos convidados a nos aceitar uns aos outros, com base no amor gracioso de Deus semeado em nossos corações. Mas como saber se estamos aceitando uns ao outros?

MARCAS DA ACEITAÇÃO

Uma das marcas da aceitação mútua é deixar de lado o julgamento e o desprezo em questões que não foram mencionadas por Deus como pecado. Essas questões estão fora de nossa alçada e serão tratada por Deus.

Aceitem o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos. Um crê que pode comer de tudo; já outro, cuja fé é fraca, come apenas alimentos vegetais. Aquele que come de tudo não deve desprezar o que não come, e aquele que não come de tudo não deve condenar aquele que come, pois Deus o aceitou. Quem é você para julgar o servo alheio? É para o seu senhor que ele está em pé ou cai. E ficará em pé, pois o Senhor é capaz de o sustentar.

Há quem considere um dia mais sagrado que outro; há quem considere iguais todos os dias. Cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente. Aquele que considera um dia como especial, para o Senhor assim o faz.

Aquele que come carne, come para o Senhor, pois dá graças a Deus; e aquele que se abstém, para o Senhor se abstém, e dá graças a Deus... Portanto, você, por que julga seu irmão? E por que despreza seu irmão? Rm 14.1-9

Nas questões, ainda que controversas, que não tratam de pecado... questões de usos, costumes e tradições... devemos deixar de lado julgamentos e acusações. A orientação de Paulo é para que os dois lados da discussão sejam sábios nisso e não transformem questões menores em cavalos de batalha dentro da igreja. O evangelho de Jesus não é para sobrecarregar. O jugo dele é suave o seu fardo é leve.

Não é necessário, nesses casos, que um lado esteja certo e o outro esteja errado, mas é necessário que nossas atitudes estejam apoiadas em convicções fundamentadas e que nossa maneira de lidar uns com os outros sirva de razão para exaltar o Senhor.

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Outra marca da aceitação é não fazer acepção de pessoas, isto é, não fazer diferença no tratamento com as pessoas com base em nossas preferências pessoais corrompidas pelo pecado.

Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com parcialidade. Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro e roupas finas, e também entre um pobre com roupas velhas e sujas. Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas finas e disserem: “Aqui está um lugar apropriado para o senhor”, mas disserem ao pobre: “Você, fique em pé ali”, ou: “Sente-se no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés”, não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados? Tg 2.1-4

Escolher a quem tratar bem não é algo que Jesus ensinou. Escolher com quem ser educado não tem amparo no evangelho. Escolher a quem dar atenção é discriminar. Privilegiar é jogar pela janela a graça de Deus. Decidir a quem amar é negar a natureza do amor de Deus.

O evangelho nos convocar a tratar todos bem, a ser educado e cortês com todos, a dar atenção a todos, a ser justo nas oportunidades e amar cada pessoa que passa em nosso caminho.

Então, quando você rejeitar as razões pessoais e culturais que movem o jeito de pensar deste mundo e adotar o amor gracioso de Jesus nos seus relacionamentos, você estará praticando o “aceitem-se uns aos outros”.

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CONCLUSÃO

Temos muitas heranças maravilhosas dos reformadores, mas penso que uma delas é uma certa tendência ao sectarismo. Com isso quero dizer que temos uma inclinação ao rompimento e também dificuldade para conviver com pensamentos diferentes.

Quando pensamos em uma igreja que aposta na importância do relacionamento com Deus e com as pessoas como estratégia para experimentar o evangelho de Jesus precisamos desenvolver a tolerância em relação a questões menos importantes para que os relacionamentos entre nós tenham tempo para amadurecer.

Claro que isso não significa transigir com o pecado ou fazer vistas grossas a valores e crenças que entram em choque com o evangelho. Para essas situações existem outros mandamentos recíprocos.

Ao decidimos aceitar uns ao outros da mesma forma como Cristo nos aceitou... estamos reconhecendo que não temos autorização de Deus para normatizar a vida uns dos outros além daquilo que a Escritura já preceitua, e isso promove a saúde da igreja.

Quando nos aceitamos uns aos outros da maneira que Cristo nos aceitou... as mudanças de vida operadas na vida do meu irmão são claramente reconhecidas como uma obra de Deus e não resultado de abuso de autoridade e coerção, e isso é dar a Cristo a glória devida ao seu nome.

Se queremos preservar a unidade do Espírito, um bom caminho, sem dúvida, é sermos diligentes em nos acolhermos uns aos outros, assim como Cristo nos acolheu: por amor.

* Baseado em capítulo homônimo do livro Um por todos, todos por um, escrito por Gene Getz, traduzido por Ana Vitória Esteves de Souza e publicado pela editora Textus (1ª edição brasileira em setembro de 2000).

Admoestando uns aos outros



Admoestando uns aos outros

E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros. Rm 15.14

A palavra não faz parte do nosso vocabulário do dia-a-dia, mas você certamente já ouviu algumas vezes em pregações e palestras, ou leu em algum texto. Admoestar é a tradução da palavra grega νουθετεω noutheteo
  
As várias traduções usam outros termos para a palavra Noutheteo neste verso, tais como... Aconselhar (NVI, NTLH), Corrigir (PAST), Ensinar (VIVA, VFL) e Orientar (KJA, AM). Além disso essa mesma palavra é traduzida em outras passagens do NT como Instruir e Advertir.

Parece, então, que tudo isso faz parte da vida da igreja. Isto é, viver igreja é nos envolvermos uns com os outros a ponto de ser possível ensinar, orientar, advertir, aconselhar e corrigir, bem como ser ensinado, orientado, advertido, aconselhado e corrigido.

Essa palavra de Paulo aos irmãos da cidade Roma, nos faz compreender que admoestar não é uma função exclusiva dos pastores ou dos líderes de uma igreja. De alguma forma, todos nós fazemos parte dessa ação de Deus.

Cada um de nós pode e será usado por Deus, em alguma ocasião, para aconselhar, corrigir, ensinar, orientar, instruir ou advertir o irmão. Da mesma forma, todos nós, em alguma ocasião precisamos ser aconselhados, corrigidos, ensinados, orientados, instruído ou advertidos por nossos irmãos.

Admoestar é o contraponto que equilibra o aceitar. Porque pode parecer, quando a gente fala em aceitar o irmão, que alguém entenda que estamos obrigados a nos calar diante do comportamento pecaminoso de alguém. Mas aceitar como Cristo aceitou e acolher a pessoa em amor sem abrir mão de ensinar, orientar advertir e corrigir quando necessário.

Duas condições são apresentadas pelo Apóstolo Paulo para alguém cumprir bem a função de admoestar o seu irmão:

Possuídos de bondade

A primeira condição é estar possuído de bondade. John Murray diz que a palavra grega agathosunes, “bondade”, se refere à virtude oposta a tudo quanto é vil e maligno; também inclui retidão, gentileza e beneficência de coração e vida.

Isso quer dizer que para ajudar nossos irmãos é preciso que estejamos tomados de sentimentos, pensamentos e intensões de bondade de uns para com os outros. Desejar o bem do outro e agir nesta direção é pré-requisito para ser útil ao orientar, advertir ou corrigir alguém.

Hernandes Lopes, esclarece que na prática a bondade tem a ver também com a disposição de investir tempo e energia para socorrer as outras pessoas em suas necessidades. Bem como a disposição de tratar bem aqueles cujas virtudes não os recomendam.

Isso quer dizer que é necessário dispor de tempo para ensinar aconselhar ou advertir alguém. Não é coisa que se faz rapidinho. Também é preciso uma disposição para ser gentil cordial e cheio de graça, sobretudo quando a pessoa resiste à Palavra de Deus e age de forma insensata e irresponsável.

Outro aspecto desse “possuídos de bondade” é que para admoestar alguém é preciso que nossa caminhada com Jesus, nosso crescimento em fé e confiança no Senhor sejam uma realidade. Não é preciso ser perfeito, mas é preciso que haja algum amadurecimento em nós quando pretendemos ajudar nosso irmão.

Cheios de todo conhecimento

A segunda condição é que sejam cheios de todo conhecimento, isto é, é preciso que haja compreensão da fé cristã, sendo necessário também a capacidade de fazer compreensível as bases dessa fé para outra pessoa. Ao pé da letra, a palavra Noutheteo, traduzida por admoestar, significa “por na mente” do outro.

Assim, faz sentido a afirmação do comentarista “O pastoreio mútuo depende não só de bondade, mas também de conhecimento”. Hernandes Lopes afirma que o conheci­mento governa a bondade. A bondade enche o cora­ção de amor, o conhecimento enche a mente de luz.

Portanto, antes de aconselhar alguém é preciso saber o que as Escrituras ensinam a respeito do assunto. E isso não é apenas para problemas grandes e complexos, mesmo os pequenos conselhos que damos no dia-a-dia precisam encontrar suporte na Palavra de Deus.

A admoestação à qual somos chamados como membros do Corpo de Cristo não é dizer nossa opinião sobre uma certa questão. Não se trata também de realizar uma sessão de terapia ou de se tornar uma espécie de Coach, mas de apresentar uma verdade bíblica, claramente discernível, experimentada, e que possa servir de guia para seu irmão seguir a Jesus bem de perto.

Algumas orientações bíblicas

Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas. At 20. 25-31

A admoestação deve ser fruto de profundo compromisso de amor: “com lágrimas” – se você não estiver comprometido com seu irmão de maneira que seu coração chore por ele, sua admoestação poderá assumir contornos de descaso.

A admoestação dever ser persistente: “noite e dia” – ensinar, corrigir, advertir e instruir não é coisa que deva ser feita apenas nos momentos de crise. Nos somos chamados por Deus a nos aconselharmos mutuamente de forma contínua e perseverante.

Pois vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos, exortando, consolando e dando testemunho, para que vocês vivam de maneira digna de Deus, que os chamou para o seu Reino e glória. 1 Ts 2.11,12

A admoestação dever ser preferencialmente pessoal: “cada um” – A pregação ou a oração pública não devem ser usadas como exortação genérica, se o desejo é orientar ou alertar uma pessoa. É muito melhor chamar o irmão em particular e dizer o que precisa ser dito, e evitar as orações relatórios que muitas vezes expõem a vida dos irmãos sem ajudar em nada.

Não estou tentando envergonhá-los ao escrever estas coisas, mas procuro adverti-los, como a meus filhos amados. 1 Co 4.14

A admoestação dever surgir de razões puras: “não estou tentando envergonhá-los” – Se percebermos qualquer motivação que não seja para o bem da pessoa que estamos aconselhando, devemos imediatamente interromper esse aconselhamento. Se houver sentimentos de vingança, auto-afirmação, orgulho, desejo de humilhar ou qualquer outro sentimento incompatível com a cruz de Cristo, nem comece a ajudar.

Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração. Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai. Cl 3.16

A admoestação dever ser o resultado natural de uma igreja que está crescendo em maturidade – “instruí-vos e aconselhai-vos” -

Cada um de nós pode e será usado por Deus, em alguma ocasião, para aconselhar, corrigir, ensinar, orientar, instruir ou advertir o irmão. Da mesma forma, todos nós, em alguma ocasião precisamos ser aconselhados, corrigidos, ensinados, orientados, instruído ou advertidos por nossos irmãos.

Conclusão

Quando nos colocamos à disposição para viver este admoestai-vos uns aos outros, estamos dizendo que nossas vidas estão abertas para os reparos que Deus deseja fazer. Falamos sempre sobre ser aperfeiçoados, mas às vezes esquecemos que esse aperfeiçoamento não é uma mágica, mas um caminho árduo de se deixar polir através da convivência com nossos irmãos.

Se somos uma igreja que pretende conviver mais de perto... experimentar mais que o culto de domingo... fazer parte da vida uns dos outros... precisamos aprender a usar a Palavra para orientar nossos irmãos em suas lutas contra o pecado, enquanto choramos juntos uns pelos outros; por outro precisamos aprender a abrir mão dos melindres e não-me-toques, permitindo que o Espírito de Deus use nossos irmão para nos corrigir e advertir.

E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros. Rm 15.14

Baseado em capítulo homônimo do livro Um por todos, todos por um, escrito por Gene Getz, traduzido por Ana Vitória Esteves de Souza e publicado pela editora Textus (1ª edição brasileira em setembro de 2000).

Salvos pela Graça! Mas não foi de graça!


PIB de Mangabeira - João Pessoa/PB 26/08/2018

Salvos pela Graça! Mas não foi de graça!

Instigante o tema escolhido para este mês dedicado aos Jovens. Logo que li lembrei-me de um pastor e teólogo alemão, Dietrich Bonhoeffer, que levantou sua voz contra a postura da igreja na Alemanha que estava passivamente calada ante as atrocidades cometidas por Hitler.

Dietrich falou sobre a diluição da Graça. Afirmou que a igreja de sua época, em vez de apresentar ao mundo a Preciosa Graça de Jesus, havia aderido a uma Graça Barata. Em seu livro, Discipulado, ele falou sobre como a salvação pela graça não pode ser desvinculada do discipulado cristão, sob pena de produzir um evangelho enfraquecido.

Hoje à noite quero guia-los pelo antigo caminho do Evangelho de Jesus e apresentar alguns aspectos da preciosa Graça de Deus e seu papel na maravilhosa salvação operada por Ele.

Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência. Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira. Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos. Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus, para mostrar, nas eras que hão de vir, a incomparável riqueza de sua graça, demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo Jesus. Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos. Ef. 2.1-10 (NVI)


Graça é presente que se recebe

Entre nós batistas é claro o entendimento de que a salvação é um presente gracioso de Deus. E ninguém paga por um presente, certo? Caso contrário deixaria de ser presente. Da mesma forma, a salvação é recebida sem contrapartidas, não custa nada para aquele que é salvo.

Ser gracioso é agir em benefício de alguém que nada fez para ser beneficiado. Se gracioso é ser a favor de alguém que é claramente contrário a você. Ser gracioso é recompensar alguém que não tem recompensas a receber. Portanto, quando as Escrituras nos dizem que fomos salvos pela Graça de Deus, ela está afirmando que fomos alcançados pelo favor imerecido de Deus.

De fato, a salvação começa em Deus, é uma iniciativa unilateral dele, cuja única motivação é o amor que ele tem por sua criação. Até mesmo a fé que brota em nossas almas é uma obra de Deus em nós, como afirma Paulo.


Primeiro a má notícia

Sabemos que o evangelho é a boa notícia da salvação, mas essa não é a primeira. Pular a primeira notícia dificulta nossa compreensão sobre como Deus age neste mundo. Mas qual é a primeira notícia? Vejamos o que dizem as Escrituras:

Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência. Ef. 2.1-3

A primeira notícia é que a humanidade vive em estado de desconexão de Deus. Essa desconexão é o resultado de nossa própria rebeldia contra Deus, da tola ilusão de que é possível construir uma boa vida por conta própria, fazendo nossas próprias regras. É o que Bíblia chama de pecado.

O mundo pode parecer bem vivo quando andamos pela cidade ou assistimos à TV, mas à parte de Deus nosso destino é a morte. É parecido com uma torneia que ainda jorra a água do cano, mas que em pouco tempo vai secar porque a caixa d’água que a alimenta foi desconectada.

A morte é o destino anunciado para quem vive sem receber a vida que vem de Deus. Veja o que as Escrituras falam sobre os que vivem desconectados de Deus, bebendo as últimas gotas do cano.

Não há ninguém vivendo como deve, nem um sequer;
ninguém entende, ninguém presta atenção em Deus.
Todos eles erraram o caminho;
todos estão vagueando sem rumo.
Ninguém está vivendo da maneira correta,
e não creio que há quem o consiga.
A garganta deles é um túmulo aberto,
e a língua, escorregadia para enganar.
Cada palavra que pronunciam está impregnada de veneno.
Eles abrem a boca e empesteiam o ar.
São eternos concorrentes ao prêmio de “pecador do ano”
e emporcalham a terra com sofrimento e ruína.
Não fazem a menor ideia do que seja viver em comunidade.
Eles passam por Deus e o ignoram.

Vejam bem, meu amigo, enquanto você não admitir que tem tentado sem sucesso viver a vida por contra própria, fazendo suas próprias regras... e enquanto não reconhecer a situação de morte em que você se encontra, Salvação pela Graça será apenas mais uma frase dita pelo pregador.

Agora a boa notícia

Como lidar com alguém que desconfia de você, não deseja sua companhia, despreza seus conselhos e por fim lhe vira as costas e vai viver a vida do seu próprio jeito? Porque essa tem sido a forma como a humanidade tem tratado o seu criador!

É provável que assim como eu você tenha dificuldade para permanecer próximo de alguém que lhe virou as costas e dificilmente vai se esforçar para fazer algo de bom para seus desafetos.

A boa notícia, que as Escrituras chamam de Evangelho, é que Deus é diferente. Ele não levou em conta o fato de você o ter rejeitado. Desde o primeiro momento Ele já tinha mente um plano para nos trazer de volta.

Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos. Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus, para mostrar, nas eras que hão de vir, a incomparável riqueza de sua graça, demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo Jesus. Ef. 2.4-7

Ainda que Deus tivesse todos as razões para nos deixar ir pelo caminho da morte, Ele não nos abandonou. Que maravilhosa descrição feita pelo apóstolo Paulo sobre o nosso Deus! Acompanhe comigo os detalhes:

Rico em Misericórdia – Em vez de deixar a humanidade morrer por causa da decisão que tomou de rejeitar a fonte da vida, Ele encontrou uma forma de nos poupar das consequências da nossa rebeldia.

Rico em Graça – A graça de Deus é visível na forma bondosa com que Ele nos tratou. A nós que viramos as costas para Ele, Deus providenciou um meio eficaz de reconciliação, enviando Jesus Cristo para pagar o preço pelo nosso pecado.

Grande em Amor – O seu amor é anunciado por toda a Escritura! Foi esse amor que fez com Ele nos criasse a sua imagem e semelhança. Foi esse grande amor que planejou nos fazer novamente vivos. Por amor Ele continua nos convidando a confiar que seremos ressuscitados para a vida eterna e estaremos com Cristo em tudo que está planejado para a eternidade.

Salvos pela Graça

Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos. Ef. 2.8-9

O que fizemos para sermos alcançados pela misericórdia de Deus? O que Ele viu para agir bondosamente com você. O que fizemos para que ele nos amasse assim de forma tão extravagante? Nada! Então, o que nos cabe nisso tudo? Confiar no amor de Deus para conosco, demonstrado pelo fato de Cristo haver morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.

Essa disposição de Deus em nos salvar, quando nossa rebeldia nos fez virar as costas para ele, chama-se graça. Ela opera por meio da fé, da confiança. A graça de Deus é um lembrete de que ninguém pode contar vantagem diante dele, porque foi ele quem decidiu salvar e providenciou os meios para a salvação.

Quando alguém tenta ser fazer merecedor do favor de Deus está desprezando a graça de Deus. Sempre que alguém faz algo para tentar convencer a Deus de que é uma boa pessoa... e que já sofreu muito nesse mundo... e que por isso merece ser recompensado... está demonstrando que não compreendeu seu estado de morte nem o amor gracioso de Deus.

Mas não foi de graça

Há um outro aspecto importante sobre a salvação pela graça pela graça com o qual pretendo finalizar a reflexão de hoje: em nossa cultura as pessoas avaliam o valor das coisas pelo preço: se é caro então é bom, se é barato então é ruim e se estão dando de graça, então certamente não serve para nada.

Não que isso seja sempre verdade, mas algumas pessoas se confundem quando ouvem que somos salvos pela graça. Elas imediatamente pensam: é de graça! E algumas até desprezam a salvação, sem se darem conta de que foram enganadas pelo sentido das palavras. Foi pela graça, sim. Mas não foi de graça. Teve um preço. E um alto preço.

É como os presentes: embora não custem nada para quem os recebe, eles certamente custam algo para quem os dá. Da mesma forma, a salvação que nada nos custou, custou um alto preço para aquele que nos salvou. (1 Pe. 1.18-21)

A vida de vocês é uma jornada que deve ser empreendida com uma profunda consciência de Deus. Custou muito caro para Deus tirá-los daquela vida sem rumo e vazia em que vocês foram criados. Ele pagou com o sangue sagrado de Cristo, vocês sabem disso. Ele morreu como um cordeiro, sem culpa. E não foi algo impensado. Ainda que só agora, no fim dos tempos, o plano tenha vindo a público, Deus sempre soube o que ia fazer por vocês. É por causa do Messias sacrificado, a quem Deus depois glorificou e ressuscitou, que vocês confiam em Deus e sabem que têm um futuro nele. (1 Pe 1.18-21 AM)

Foi pela graça, mas não foi de graça. Custou caro, meus irmãos! O resgate por nossas vidas custou o sangue sagrado de Cristo. Assim como o cordeiro que foi providenciado por Deus para substituir Isaac, Jesus foi enviado pelo Pai para que nós fôssemos poupados da condenação eterna.

Foi pela graça, mas não foi de graça, meus irmãos! Custou a vida do Filho de Deus! Isso não foi um plano de última hora. Desde a eternidade estava tudo preparado para que no tempo certo o Pai enviasse o Filho, no poder do Espírito Santo, como prova do amor do Deus Trino pela humanidade.

Foi pela Graça, mas não foi de graça. Pregado em uma cruz como se fosse um bandido, antes de morrer, Jesus bradou: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?  Aquele que não tinha pecado recebeu sobre si o peso dos pecados do mundo e sofreu a dor da separação do Pai. Não foi de graça!

Foi pela Graça de Deus que você foi salvo, mas não foi de graça! Se hoje você pode buscar a presença de Deus em oração e chamá-lo de Pai, saiba que isso custou o sangue Cristo derramado na cruz! Foi de lá, da cruz no Calvário, que ele bradou: está consumado. Então o véu do templo rasgou-se de cima a baixo e um novo e vivo caminho se estabeleceu ao coração do Pai.

Foi pela graça, mas não foi de graça. Aquele que pagou o preço da nossa salvação agora está junto ao Pai intercedendo por nós. Ele conhece as nossas lutas, ele sabe das nossas fraquezas, ele nos ama e está pronto a nos conceder misericórdia e graça, como afirma o escritor de Hebreus:

Portanto, visto que temos um grande sumo sacerdote que adentrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, (...) aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade. Hb 4.14-16 NVI

Concluo pedindo, como o apóstolo Paulo, ao Deus de toda graça, que nos restaure, confirme e nos ponha sobre os firmes alicerces do seu Evangelho.